27 de abril de 2017

Histórias do Giro. O aparecimento de dois dos maiores mitos do ciclismo

Fausto Coppi (Fotografia: Wikimedia Commons)
Até 1950 os italianos dominaram quase por completo o pódio do Giro. Só em quatro edições um estrangeiro (dois belgas e um francês) conseguiram "furar" o domínio e o suíço Hugo Koblet foi o primeiro a vencer a Volta a Itália. Essa predominância italiana permitiu o aparecimento de ciclistas que se tornariam autênticos mitos da modalidade. Depois da era Alfredo Binda, foi a era de Gino Bartali e o grande Fausto Coppi.

Primeiro apareceu Bartali. A primeira de três vitórias no Giro surgiu num ano complicado a nível político. Em 1936 a Itália sofreu pesadas sanções devido à crise de Abissínia. A instabilidade na Europa ia também aumentando, com a aliança entre Itália e Alemanha. Nesse ano só participaram ciclistas transalpinos no Giro. Tal não retira mérito à vitória de Bartali, que no ano antes tinha vencido uma etapa e conquistado a primeira de sete classificações da montanha.

Porém, o sucesso de 1936 que parecia estar a lançar a sua carreira, quase que acabou por ser o único. Bartali venceu a Volta a Itália e o Giro da Lombardia, mas a morte do irmão levou o ciclista a ponderar abandonar. Foi convencido a regressar e tornou-se no grande ciclista italiano antes da Segunda Guerra Mundial: venceu ainda o Giro de 1937 e o Tour de 1938. Ainda antes da paragem devido à guerra apareceu Fausto Coppi e foi o início de uma das maiores rivalidades da história do Giro. Coppi venceu em 1940, mas foi preciso esperar por 1946 para que, após o final da guerra, se assistisse à rivalidade em todo o seu esplendor.

Gino Bartali
(Fotografia: Wikimedia Commons)
Primeiro ganhou Bartali e Coppi foi segundo, no ano seguinte inverteram as posições. Em 1949 Coppi voltou a bater Bartali, que no ano seguinte foi novamente segundo atrás de Koblet. A entrada na década de 50 acabou por ditar também a fase descendente da carreira de Bartali, enquanto Coppi venceu mais dois Giros (ao todo foram cinco, um recorde que partilha com Alfredo Binda e Eddy Merckx) e um Tour.

Durante muitos anos Itália esteve dividida no apoio a Bartali e Coppi, dois ciclistas que discutiram vários triunfos e elevaram o ciclismo italiano a um nível difícil de igualar. Depois de se retirar, Bartali terá perdido grande parte do dinheiro que ganhou, tendo vivido na sua Florença até morrer em 2000. Dez anos depois veio a público o papel que o antigo ciclista teve durante a Segunda Guerra Mundial, ajudando judeus a fugir à perseguição nazi. Terá mesmo escondido uma família na sua casa e Bartali terá ainda ajudado a resistência.

Fausto Coppi foi um dos soldados do exército italiano na guerra. Como ciclista acabaria por cair em desgraça devido à sua vida pessoal. Coppi foi acusado de adultério em 1955. A situação foi de tal forma grave que o Papa Pio XII recusou abençoar uma edição do Giro se Coppi participasse. Apesar dos apelos para voltar para a esposa, Coppi recusou e manteve a relação vista com imprópria - teve um filho -, o que fez com que os que chegaram a ser seus fãs, lhe cuspissem durante as corridas.

A vida de atleta admirado tinha terminado. Em 1960 Coppi aceitou ir ao Burkina Fasso competir contra alguns ciclistas locais. Foi infectado com malária e faleceu aos 40 anos. Já neste século surgiram notícias que Coppi teria sido assassinado, com recurso a veneno ou a uma overdose. Nunca nada foi provado. Porém, hoje em dia Coppi é novamente admirado pelo excelente ciclista que foi, pela forma como enfrentava as montanhas, pela rivalidade com Bartali que tanto espectáculo proporcionou no Giro e não só.

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